4.12.07

a geladeira azul


A geladeira azul-gelo localizada na cozinha de seu apartamento lhe oferecia uma ressonância mítica, acreditava que com a simples posse daquele objeto datado da década de 50, seu território domiciliar ganhava toda uma aura de forte significado ante a todas aquelas casas hipermodernas com formato de um iglu esquimó, mais uma efêmera tendência que assolava as vizinhanças próximas do condômino fechado aonde morava fazia uns 5 anos desde então.

Caminhou com uma gélida calma em direção daquele objeto, podia sentir a cada passo as vibrações quase maternais passando por cada camada de pele, podia imaginar aquilo ressonando em seus neurônios, construindo novas redes mnemônicas que garantiriam uma certeza definitiva não questionável por qualquer inteligência viva ou não.

Com a mão direita abriu a porta da geladeira, deixando aquela luz de dentro dela iluminar o corpo nu e deformado pelo sedentarismo,havia se despido das vestimentas, ficou por um breve momento em frente da geladeira, contemplando os últimos momentos de dores e frustrações,como depois de um minuto de silencio em uma partida de futebol, nosso amigo adentrou as profundezas refrigeradas daquela geladeira quase sexagenária, desejava estar o quanto menos cheio de qualquer vestígio da cultura humana antes do momento acolhedor nas entranhas mecânicas daquele objeto.

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