A atrocidade como arte e estudo do comportamento humano, o que a vida sugere para as classes mais baixas mostrada de uma forma sutil ,cheia de influencias artísticas como expressionismo alemão,surrealismo, tudo isso criando um clima onírico e atormentador.
Na tentativa de identificar as influências do trabalho de Maruo críticos e apreciadores de sua arte dizem também ser clara a influência do “ Théâtre du Grand-Guignol”, um teatro feito na França ,aparentemente feito com temas dramáticos, de estética grotesca e macabra , possuidor de agudo humor negro.
Também é dada como certa a influencia das e-muzan,gravuras grotescas de grande fama no Japão do séc. XIX, nota se que a arte de Maruo tem um traço mais clássico do que a maioria das hq’s japonesas,nesse caso “o vampiro que ri” corresponde ao gênero dos “gekigas”(guequiga),quadrinhos mais adultos e menos “inocentes”.
Outra caracteristica que diferencia OVQR dos mangas é com certeza a arte, muito detalhada ,até os objetos e planos de fundo são tratados com muita atenção,pode ser que não tenha nada a ver ,mas vou colocar um pouco do que li em "Ilusão Vital" de Baudrillard, "No momento em que o sujeito descobre o objeto,o objeto faz uma descoberta reversível,mas nunca inocente, do sujeito.Mais do que isso - trata-se realmente de uma espécie de invenção do sujeito pelo objeto inventado.Acho que é o que ocorre com a figura do vampiro que ri, é uma invenção feita pelo objeto do sujeito,seria o reflexo da civilização caótica em um resultado também caótico, com impacto no indivíduo social.
A arte gráfica japonesa parece ter nascido da necessidade de retratar figuras heróicas do antigo Japão, como os guerreiros “ronin”,fato que também ocorreu com o oculto e o fantástico, retratado por artistas como Katsushika Hokusai e Tsukioka Yoshitoshi.
Por mim eu diria que a obra de Maruo em questão,é como uma continuaçao dessas artes de raiz.Aqui o oculto é utilizado e jogado em um plano atual,e como já postei anteriormente no blog,o oculto é utilizado para descrever as extensões humanas que não são claramente percebidas pela lógica e ciência,portanto reforço,é um caótico estudo comportamental.
Repare quando Runa(uma das personagens)começa a se impressionar com o podre alheio,ela chama a própria irmã de vampira, fica louca com o que suas amigas de colégio fazem para conseguir dinheiro e boas notas,tudo isso é demais para uma menina aparentemente normal e de tranquila conduta,a vida de Runa muda quando Mori(outro personagem,o da capa) lhe derrama o sangue fazendo a beber e então também se torna vampira.
Repare também que Sotoo é diferente de Runa e Mori, ele não é um vampiro completo, ele recusa se tornar um deles, quase se torna,antes prefere combater até a morte, talvez para ele o fato de ser um vampiro completo seria insuportável e morre antes de assumir total consciência do que seria sua metamorfose final.
Mori e Runa conseguem rir da loucura da vida, como bem percebeu Rogério Campos, ao comparar o sorriso do vampiro com o de Johnny Rotten(vocal do "sex pistols").
Dai o resultado é parecido com o da música do metallica ,fight fire with fire: "Do unto others as they have done to you
But what in the hell is this world coming to?".
Warai-hannya(hannya risonha) ,será que a velha corcunda foi inspirada nela?
Oiwa
Mais do que pura arte, “O vampiro que ri” mostra possuir conteúdo político,já
que representa um tipo de entretenimento voltado para classes sociais de origem e gostos diferentes dos aristocráticos, como seria o caso da literatura do Marques de Sade,também apontado como uma influência,ao ler “O Marido Complacente”,essa idéia de que Sade é um autor de estilos mais aristocráticos ganhou força em mim,francamente esperava mais, vou procurar por “120 dias de Sodoma” e “Filosofia na Alcova”para me certificar de que não me engano.
Vale cada centavo.
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